Era mais um dia na vida de muitos. Um muito desejado sábado
de descanso e lazer para outros. Mas para mim, era dos sábados mais importantes
da minha vida.
Era necessário acordar cedo, preparar-me cuidadosamente e
partir para aquela estação velha que há tantos anos conheço. A minha ansiedade
não me permitiu dormir muito à noite. Havia uma necessidade constante de
assegurar que o tempo não me trocava as voltas. Mas na derradeira hora de
acordar, eis que uma forte dor de estomago impossibilita-me de me levantar.
Sentia que ia vomitar a qualquer momento ou simplesmente desmaiar a qualquer
instante. Permaneci na cama na esperança de melhorar e poder apanhar o 2º
comboio da manhã em direção à minha tão adorada Lisboa.
Acabei por acordar muito em cima da hora. Faltava meia-hora
para o comboio chegar e ainda estava em casa em pijama, acabadinha de acordar.
Um enorme medo de não conseguir ir a Lisboa, encheu-me de ansiedade e fez com
que apressa-se tudo o que fazia. A minha mãe já dizia frases desmotivantes: “não
vamos conseguir chegar lá a tempo”. E no meio de tanta correria, algum trânsito
lento e uma grande esperança, chegámos à estação cerca de 5 minutos antes do
comboio chegar.
Na viagem, ouvia música e assistia à paisagem verdejante que
passava por mim a altas velocidades. Agora mais calma e relaxada naqueles
acentos confortáveis, reparava que a minha camisola ainda não tinha secado e
que me estava a arrefecer as costas. Mas depressa esqueci a humidade da
camisola e cai num sono induzido por aqueles comprimidos anti enjoo.
Duas horas depois, sou acordada pela minha mãe que pede para
ir despertando, já que a paragem onde íamos desembarcar aproximava-se. Sentia
uma ansiedade pequena e uma felicidade enorme. Aproximava-se a hora de pisar
chão Lisboeta. Sentia uma euforia que tentava esconder na minha personalidade
calma e séria.
No táxi que nos guiava até ao Centro Comercial Vasco da
Gama, podia ver a vida lisboeta: o trânsito aglomerado e desrespeitador, a pressa
e a impaciência, o ritmo acelerado da cidade.
Chegando ao centro comercial, era necessário fazer compras
de urgência devido ao meu esquecimento provocado pela pressa.
Estava na fila para pagar as compras quando ergui a cabeça e
os meus olhos são automaticamente redirecionados para aquele ser. Conhecia
aquele andar, aquela estrutura e estatura. Conhecia aquele rosto tão bem. O meu
corpo paralisou de nervos enquanto o seguia com o olhar. Foram imediatos os
sentimentos que se despertaram. Não sentia aquele nervoso miudinho no estômago
à algum tempo e recordava ali a sensação de estar completamente possuída por
uma paixão. Quando finalmente acordei daquele estado hipnótico, tirei o
telemóvel e apressei-me a ligar-lhe a anunciar a minha presença. Pedi licença
para passar para poder-me colocar ao fim da caixa e esperar por ele fora da
fila. Tentei não olhar para o lado e procura-lo, fixando o meu olhar na minha
mãe. Sentia-o a aproximar-se e os meus nervos a duplicarem-se.
Quando ele finalmente chega perto de mim e eu olho-lhe nos
olhos, a minha primeira reação seria abraçá-lo, beijá-lo e matar as saudades
que tanto tinha. Mas controlei-me, fui paciente e esperei pela minha mãe.
Já fora do centro comercial e já um pouco longe daquela
movimentação, beijámo-nos e eu pude recordar a essência dos seus beijos. Beijos
que me fazem sentir nas nuvens. Beijos viciantes que desejava a cada segundo.
Passeamos um pouco pelos jardins à margem do rio Tejo e acabamos
por nos sentar num banco de pedra. Ele sentou-se encostado as costas do banco e
eu acabei por me deitar com a cabeça no colo dele. A mão dele em cima da minha
barriga, o sol a bater-me de leve no corpo e o calor que ele próprio transmitia
e que eu sentia na minha cara, dava-me um conforto enorme. Por mim, ficaria daquela
maneira a tarde toda. Olhávamos os dois para dois tubos metálicos pretos e para
várias pessoas que os metiam à prova de som. Rimo-nos da situação deveras ridícula
a que as pessoas se metiam simplesmente por causa da disposição dos tubos.
Depois de “almoço”, voltámos para o jardim e fomos passear
para a zona oposta aos bancos onde tínhamos ficado anteriormente. Num momento
de brincadeira, ele afasta-se de mim, andando mais adiante a dizer
repetidamente: “Adeus!”. Queria testar a sua teimosia e fiquei atras, enquanto
os meus passos eram cada vez mais curtos. Até que ele continua a andar e eis
que, em vez de andar em sentido recto, dá meia volta e abraça-me. Agarra-me
como sendo eu o seu bem mais precioso, metendo os braços a volta da minha
barriga e a cabeça no meu ombro. Quando me largou, não tardou muito para me
beijar intensamente como só ele sabe.
Chegando à margem do rio, ele senta-se num muro de pedra e
eu sento-me no colo dele. Perguntava-lhe se lhe incomodava o facto de eu não
ser mais baixa que ele. E ele disse-me que eu não era muito mais alta. Nesse
momento, passa um casal de idosos agarrados pela cintura. E eis que ele dá o
exemplo: “Olha esse casal. Eles também não se importaram com a altura”. Quando
tomei atenção, reparei que a senhora devia de ter mais 10 centímetros que o
senhor. Senti-me melhor. Senti-me mais confortável. Não só por voltar a envolver-me
nos seus doces beijos, mas por saber que ele me aceita tal e qual como sou.
Quando voltamos ao bancos onde inicialmente estávamos,
encostei-me ao banco e ele envolve-me num beijo logo que eu desejava nunca
acabar. Quando ele afasta os seus lábios dos meus, sem afastar a cara
completamente, declara-se a mim. Confessa que me acha linda e que me ama como
nunca amou ninguém. Fiquei sem o que dizer. Nunca tinha recebido uma declaração
de amor tão verdadeira, muito menos naquela proximidade, naquela intimidade.
Assim que tive oportunidade de lhe olhar nos olhos, vi o meu reflexo. Vi a
minha cara tão nítida naqueles olhos brilhantes. Aquele brilho não enganava
ninguém. Sabia naquela altura que o meu amor por ele era 100% correspondido. O
meu estomago não parava de me avisar que ele era o rapaz dos meus sonhos, com
tanta inquietação que as “borboletas” causavam no seu interior.
A tarde ia passando, o sol ia-se pondo e a minha inquietação
deu lugar a um sentimento de saudade. Sentia que o momento da despedida estava
próximo. A desmotivação era agora evidente. E ele reparara nisso. Preocupado,
pergunta-me se se passa algo. Não demorou muito até eu esquecer o facto de
estarmos quase a despedirmo-nos e voltar à alegria de estar com ele.
Aproveitei essa tarde como se fosse a última, e não me
arrependi de nada. Foi das melhores tardes da minha vida, se não a melhor.
Quando me despedi dele, sentia que não seria uma despedida para sempre. Tentei não
olhar para ele a afastar-se para poupar-me ao sofrimento de o deixar ir.
Quando cheguei ao comboio ainda um pouco eufórica da tarde
passada, recebo uma mensagem que me fez sorrir sozinha no comboio. Encostei a
cabeça à janela, e com um sorriso nos lábios fechei os olhos e recordei a tarde
com desejo por mais e fixei aquela mensagem:
“EU AMO-TE!”