domingo, 10 de junho de 2012

Lisboa aos seus amores


Era mais um dia na vida de muitos. Um muito desejado sábado de descanso e lazer para outros. Mas para mim, era dos sábados mais importantes da minha vida.
Era necessário acordar cedo, preparar-me cuidadosamente e partir para aquela estação velha que há tantos anos conheço. A minha ansiedade não me permitiu dormir muito à noite. Havia uma necessidade constante de assegurar que o tempo não me trocava as voltas. Mas na derradeira hora de acordar, eis que uma forte dor de estomago impossibilita-me de me levantar. Sentia que ia vomitar a qualquer momento ou simplesmente desmaiar a qualquer instante. Permaneci na cama na esperança de melhorar e poder apanhar o 2º comboio da manhã em direção à minha tão adorada Lisboa.
Acabei por acordar muito em cima da hora. Faltava meia-hora para o comboio chegar e ainda estava em casa em pijama, acabadinha de acordar. Um enorme medo de não conseguir ir a Lisboa, encheu-me de ansiedade e fez com que apressa-se tudo o que fazia. A minha mãe já dizia frases desmotivantes: “não vamos conseguir chegar lá a tempo”. E no meio de tanta correria, algum trânsito lento e uma grande esperança, chegámos à estação cerca de 5 minutos antes do comboio chegar.
Na viagem, ouvia música e assistia à paisagem verdejante que passava por mim a altas velocidades. Agora mais calma e relaxada naqueles acentos confortáveis, reparava que a minha camisola ainda não tinha secado e que me estava a arrefecer as costas. Mas depressa esqueci a humidade da camisola e cai num sono induzido por aqueles comprimidos anti enjoo.
Duas horas depois, sou acordada pela minha mãe que pede para ir despertando, já que a paragem onde íamos desembarcar aproximava-se. Sentia uma ansiedade pequena e uma felicidade enorme. Aproximava-se a hora de pisar chão Lisboeta. Sentia uma euforia que tentava esconder na minha personalidade calma e séria.
No táxi que nos guiava até ao Centro Comercial Vasco da Gama, podia ver a vida lisboeta: o trânsito aglomerado e desrespeitador, a pressa e a impaciência, o ritmo acelerado da cidade.
Chegando ao centro comercial, era necessário fazer compras de urgência devido ao meu esquecimento provocado pela pressa.
Estava na fila para pagar as compras quando ergui a cabeça e os meus olhos são automaticamente redirecionados para aquele ser. Conhecia aquele andar, aquela estrutura e estatura. Conhecia aquele rosto tão bem. O meu corpo paralisou de nervos enquanto o seguia com o olhar. Foram imediatos os sentimentos que se despertaram. Não sentia aquele nervoso miudinho no estômago à algum tempo e recordava ali a sensação de estar completamente possuída por uma paixão. Quando finalmente acordei daquele estado hipnótico, tirei o telemóvel e apressei-me a ligar-lhe a anunciar a minha presença. Pedi licença para passar para poder-me colocar ao fim da caixa e esperar por ele fora da fila. Tentei não olhar para o lado e procura-lo, fixando o meu olhar na minha mãe. Sentia-o a aproximar-se e os meus nervos a duplicarem-se.
Quando ele finalmente chega perto de mim e eu olho-lhe nos olhos, a minha primeira reação seria abraçá-lo, beijá-lo e matar as saudades que tanto tinha. Mas controlei-me, fui paciente e esperei pela minha mãe.
Já fora do centro comercial e já um pouco longe daquela movimentação, beijámo-nos e eu pude recordar a essência dos seus beijos. Beijos que me fazem sentir nas nuvens. Beijos viciantes que desejava a cada segundo.
Passeamos um pouco pelos jardins à margem do rio Tejo e acabamos por nos sentar num banco de pedra. Ele sentou-se encostado as costas do banco e eu acabei por me deitar com a cabeça no colo dele. A mão dele em cima da minha barriga, o sol a bater-me de leve no corpo e o calor que ele próprio transmitia e que eu sentia na minha cara, dava-me um conforto enorme. Por mim, ficaria daquela maneira a tarde toda. Olhávamos os dois para dois tubos metálicos pretos e para várias pessoas que os metiam à prova de som. Rimo-nos da situação deveras ridícula a que as pessoas se metiam simplesmente por causa da disposição dos tubos.
Depois de “almoço”, voltámos para o jardim e fomos passear para a zona oposta aos bancos onde tínhamos ficado anteriormente. Num momento de brincadeira, ele afasta-se de mim, andando mais adiante a dizer repetidamente: “Adeus!”. Queria testar a sua teimosia e fiquei atras, enquanto os meus passos eram cada vez mais curtos. Até que ele continua a andar e eis que, em vez de andar em sentido recto, dá meia volta e abraça-me. Agarra-me como sendo eu o seu bem mais precioso, metendo os braços a volta da minha barriga e a cabeça no meu ombro. Quando me largou, não tardou muito para me beijar intensamente como só ele sabe.
Chegando à margem do rio, ele senta-se num muro de pedra e eu sento-me no colo dele. Perguntava-lhe se lhe incomodava o facto de eu não ser mais baixa que ele. E ele disse-me que eu não era muito mais alta. Nesse momento, passa um casal de idosos agarrados pela cintura. E eis que ele dá o exemplo: “Olha esse casal. Eles também não se importaram com a altura”. Quando tomei atenção, reparei que a senhora devia de ter mais 10 centímetros que o senhor. Senti-me melhor. Senti-me mais confortável. Não só por voltar a envolver-me nos seus doces beijos, mas por saber que ele me aceita tal e qual como sou.
Quando voltamos ao bancos onde inicialmente estávamos, encostei-me ao banco e ele envolve-me num beijo logo que eu desejava nunca acabar. Quando ele afasta os seus lábios dos meus, sem afastar a cara completamente, declara-se a mim. Confessa que me acha linda e que me ama como nunca amou ninguém. Fiquei sem o que dizer. Nunca tinha recebido uma declaração de amor tão verdadeira, muito menos naquela proximidade, naquela intimidade. Assim que tive oportunidade de lhe olhar nos olhos, vi o meu reflexo. Vi a minha cara tão nítida naqueles olhos brilhantes. Aquele brilho não enganava ninguém. Sabia naquela altura que o meu amor por ele era 100% correspondido. O meu estomago não parava de me avisar que ele era o rapaz dos meus sonhos, com tanta inquietação que as “borboletas” causavam no seu interior.
A tarde ia passando, o sol ia-se pondo e a minha inquietação deu lugar a um sentimento de saudade. Sentia que o momento da despedida estava próximo. A desmotivação era agora evidente. E ele reparara nisso. Preocupado, pergunta-me se se passa algo. Não demorou muito até eu esquecer o facto de estarmos quase a despedirmo-nos e voltar à alegria de estar com ele.
Aproveitei essa tarde como se fosse a última, e não me arrependi de nada. Foi das melhores tardes da minha vida, se não a melhor. Quando me despedi dele, sentia que não seria uma despedida para sempre. Tentei não olhar para ele a afastar-se para poupar-me ao sofrimento de o deixar ir.
Quando cheguei ao comboio ainda um pouco eufórica da tarde passada, recebo uma mensagem que me fez sorrir sozinha no comboio. Encostei a cabeça à janela, e com um sorriso nos lábios fechei os olhos e recordei a tarde com desejo por mais e fixei aquela mensagem:
“EU AMO-TE!”

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ignorância?


Num destes dias em que me encontrei doente, olhei para a televisão com os olhos semi-serrados e o corpo mole e deparo-me com milhares de pessoas (ignorantes por certo), não a fazer culto à Nossa Senhora de Fátima, mas a fazer aumentar a economia de quem busca a ignorância para fazer negócio. Milhares de velas acesas numa praça abarrotada de peregrinos... Para quê? Porquê?
Lembro-me perfeitamente da última vez que fui a Fátima. Não fui com intenção de ver uma figura feita de cera, por certo. Mas lá fui. Ver inúmeras pessoas ajoelhadas, em pleno calor de Agosto, com crianças às cavalitas fez-me perguntar se era aquilo que elas queriam. Se era a dor que procuravam. Dizem ser uma estupidez (e há até quem diga que é pecado) o facto de pessoas depressivas cortarem os pulsos. Não será “pecado” também sofrerem por uma promessa que fizeram a um amigo imaginário? Sim, porque o que será mais Deus que um amigo imaginário? Faz-se a pergunta: “Onde está ele agora?” e recebe-se a resposta: “Ele está no meio de nós.” Porque não consideram estas pessoas loucas tal como todas as outras? É a queimar velinhas RECICLADAS que vão homenagear alguém ou pedir desejos? É por comprar colares e pulseiras que vão ficar protegidos de todo o mal? Não entendo. As pessoas deviam de lutar para encontrar soluções para cada problema e não parar e rezar esperando que as soluções apareçam, como se costuma dizer, milagrosamente.
Uma vez explicaram-me a teoria católica que responde a todas as perguntas que os ateus tão bem fazem. Mas eu vou ridicularizá-la tal como acho ridícula toda esta fixação pela religião: Ora temos um tampão. Eu posso dizer que esse tampão é o meu Deus. Eu acredito no tampão. Que vou eu fazer? Vou rezar para ele todos os dias. Se eu tiver um problema, vou rezar intensamente. Se o problema não se resolver eu vou dizer: “O tampão não pode ajudar sempre” por isso vou rezar ainda mais porque alguém vai dizer que não me dediquei o suficiente à fé. Se por acaso aparecer uma solução para o meu problema, eu vou dizer: “Obrigado tampão pelo milagre!”. Faz sentido? Eu não acho que faça sentido, tal como a religião em si.
A igreja diz querer ajudar o pobre mas no entanto, aumenta a sua economia tornando-se o órgão mais rico. E o crente continua de olhos vendados não querendo aceitar o que realmente se passa.
Depois dizem que nós, ateus, somos os pobres de espírito ou os ignorantes. Talvez sejamos ignorantes da sua ignorância, mas isso torna-nos sábios da verdade.

sábado, 24 de setembro de 2011

Saudade e Desejo


Farta de viver entre lágrimas e sobre a grande pressão do medo que sentia de o perder, decidi mudar o rumo das coisas. Achava de mais todo o sofrimento que sentia. Tudo o que é de mais, não pode fazer bem.
Decidi então manter-me ocupada enquanto os dias passavam. Isto porque um dos meus principais problemas, era o tempo livre que tinha que me possibilitava pensar até de mais e levar-me a afundar na minha própria tristeza.
Com amigos por perto que fazem de tudo para me ver a sorrir, segui a minha vida. Mas não totalmente. Apesar de, na escola manter a cabeça ocupada com as novidades dos meus colegas ou a matéria escolar, ele continuava a preencher-me o coração.
Tentei ser o mais feliz possível. Tentei não ver o que mais me custava ver. Tentei parar de pensar que precisava dele... Eu bem tentei. Mas enganar a mente é difícil quando se tem um coração que bate sucessivamente pela mesma pessoa.
Sempre que falava com ele, tentava ao máximo mostrar o quão bem eu agora estou. O quão animada consigo ser. Mostrar-lhe que sei ser feliz. Mas por outro lado, as saudades são aterradoras. Sinto que falta a outra parte de mim. A que me mantém quente, a que me faz suspirar, que me faz rir, que faz o meu coração palpitar, que me faz desejar viver um pouco mais cada pequeno momento. Não só tenho saudades daquele corpo junto ao meu, como de todos os sentimentos que me consomem. Tenho saudades de sentir aquele nervoso miudinho antes da sua chegada, sentir-me protegida e especial na sua presença e sentir aquele desejo de não o deixar ir na hora de partir. Tenho saudades de ser beijada e mordida, de ficar junto a ele em longos abraços. Tenho saudades do desejo quase incontrolável de o beijar quando ficava a centímetros dos seus lábios e de lhe dizer o quanto o amo.
Pergunto-me todos os dias quantos dias faltam para poder voltar a vê-lo. Depois daquele susto que apanhei quando ele me pede para o esquecer, a minha única vontade é dedicar um dia a ele apenas, para lhe mostrar que me arrependo de tudo o que o aborreceu e chateou e de ter criado todos aqueles mal entendidos. Quero ter a certeza que nada foi afectado, e se foi, recuperar tudo se possível. Porque apesar de tudo o que aconteceu, eu continuo a ama-lo. Eu não o quero perder muito menos por coisas sem grande importância.
“Isso é o que todas dizem”. Este é o pensamento que me assombra. O seu medo de reviver o passado é evidente, mas como poderei eu mostrar que eu sou o presente que lhe pode mudar o futuro? Não compreendo como é que, depois de lutar e jurar não desistir, ele coloca a hipótese de eu o deixar. Eu não o considero um troféu que, uma vez ganho, é posto para exposição e é contemplado por vezes quando alguém se lembra que tal existe. Eu vejo-o como a pessoa que mais mexe comigo, tanto fisicamente como sentimentalmente. A pessoa que mais amo. A pessoa que quero dedicar cada dia da minha vida. Como poderei eu fartar-me da pessoa que mais feliz me faz? Não faz sentido algum. Nunca me fartei das pessoas que amo, mesmo que isso me destrua. Como poderei eu mostrar-lhe que eu não sou igual a todas as outras se é ele quem não quer ver? Confiança em mim é o que lhe falta e é o que o engana e baralha. Disso eu tenho a certeza.
Entretanto, fora-me colocada a hipótese de sair do país. Entrar num avião e seguir numa viagem cujo destino é imprevisível. Sorri e disse a mim mesma: "Já estou distante o suficiente da minha felicidade e da pessoa que amo." Mesmo que mudar de país fosse sinónimo de uma vida economicamente estável, não seria sinónimo de uma vida feliz. Neste caso, o dinheiro não trás mesmo felicidade. De que me serve ter tudo se no fundo, não o tenho? Acabo por não ter nada na mesma. Nem penso em coisas como: ''Se fosse seria assim..." porque não seria nada. Não sou capaz de me imaginar tão longe dele. Não há imaginação para tamanho desgosto. Prefiro aguentar qualquer tipo de crise económica, corrupções, burlas, injustiças e punições. Já aguentei o arrependimento em puro estado. Aguentarei qualquer situação. Porque apesar de ter ido abaixo, isso só me tornou uma pessoa mais forte. Agora sou capaz de esperar e suportar.

“ Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.”



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Aprende-se com os erros. Parte 4


Em momentos de reflexão, achei que seria melhor para ambos que eu me afastasse. Seria mais fácil para mim esquecê-lo por não receber falsas esperanças, seria mais fácil para ele ser feliz não me tendo a fazer-lhe perguntas que o baralhavam. Foi nessa altura que lhe perguntei:
- Tu queres mesmo que te esqueça?
- Sinceramente?
- Sim.
- Não.
- Porquê?
- Não sei.
Foi o que precisei de saber para começar uma confusão enorme dentro da minha cabeça. Deveria eu lutar por aquilo que amo ou oferecer a vitória rezando que ele fosse feliz daquela maneira? Todas as perguntas e respostas na minha mente estavam agora em choque umas com as outras. Não sabia que respostas encaixar em todas as perguntas.
Ele pedira-me que lhe fizesse um desenho. Com todo o amor e carinho, peguei naqueles lápis gastos mas ainda novos e dei asas à minha criatividade. Cinco horas a criar o esboço. Todas as ideias deviam de ali estar. Uma criatura orgulhosa, de olhos postos no observador, com um olhar de quem não vai desistir, sensação de movimento proporcionado pelas patas, dando um pouco a noção que o seu caminho é sempre em frente mas está pronto a mudar de direcção. Cabelos esvoaçantes ao sabor do vento. Dei um ligeiro sorriso à criatura e tornara o seu olhar mais penetrante, dando uma sensação que estaria sempre a olhar por ele.
Chegou o dia de lhe entregar o desenho. Foi a espera mais longa e mais nervosa que tive. Tinha medo de desatar a chorar assim que o visse. Tinha medo de não conseguir ser quem ele já conhecia devido àquele pesadelo que tinha andado a passar.
Quando ele finalmente chegou, o meu coração disparara. Sentia as minhas mãos trémulas. Entreguei-lhe o desenho e o seu sorriso tranquilizara-me. Fizemos aquele caminho que já tínhamos feito anteriormente com a diferença que eu agora sentia-me vazia. Sentia a minha alma morta. Não demorou muito até ele me devolver novamente à vida. Ele é sem dúvida remédio para qualquer mal.
Já mais no nosso à vontade, ele decidiu ir para o topo de umas rochas na praia. O meu principal medo era agora evidente: alturas. Aproximou-me do penhasco enquanto eu tremia de medo. A sua mão na minha barriga e o seu braço à volta da minha cintura dava-me toda a confiança que eu precisava para me aproximar da extremidade. Meti a minha mão sobre a dele como se pedisse para não me deixar. Apesar de todo o medo que sentia ao olhar para aquela altura toda e ver as ondas a baterem nas rochas, sentia-me tão bem. Agarrada pela pessoa que amo, sentia a confiança toda que precisava para superar os meus medos.
Nessa mesma noite, tivemos a conversa que eu sempre quis ter. Falar-lhe das coisas e analisar-lhe as expressões. Mesmo não tendo dito metade do que pensava, tivemos a conversa. Sentia-me nervosa. Isso não me deixava pensar bem naquilo que haveria de dizer. Apenas naquilo que sentia.
Mais tarde, senti o seu corpo quente sobre o meu corpo gelado num abraço longo. Talvez o abraço mais longo que alguma vez tivera. Enquanto permanecíamos agarrados, as minhas lágrimas quase que se apoderam do meu olhar. Sentia uma vontade enorme de lhe murmurar ao ouvido: “Amo-te tanto... Fica comigo...”.
Mais uma vez, a minha vontade de ir para casa era nula. Só queria ficar ali com ele. Assim. Agarrados.
Desta vez eu não vou desistir. Quero mostrar-lhe que estou disposta a tudo pela sua felicidade, para lhe dar todo o amor e carinho possível. Aprendi que, mesmo que não se possa mudar o passado, pode-se sempre lutar no presente por um futuro melhor. “Desistir” já não faz parte do meu dicionário. “Esquecer” já não faz parte dos meus planos. “Aproveitar” e “Amar” são palavras de ordem de avanço nesta guerra que é o amor.

Aprende-se com os erros. Parte 3


Vivia obcecada com a dor que sentia. Aquela facada nas costas, conseguira perfurar-me o coração, atravessando-o de um lado ao outro. Sentia-me frágil e esquiva. Tinha medo que aparecesse alguém e que me esfaqueasse novamente. Não iria suportar tamanha dor.
De facto, apareceu. Mas a facada no meu coração, fui eu mesma que a dei.
Achava estranho alguém como ele vir falar comigo. Guitarrista e vocalista. Giro e diferente de todos os outros. “Outra armadilha” pensei eu. O meu receio que algo corre-se mal não anulava a minha curiosidade em conhecê-lo. Mas talvez esse receio, tenha feito o mau timing para tal acontecer.
Sentia a necessidade de lhe falar, de o conhecer melhor. Mas algo em mim não me deixava ser quem realmente sou. Cheguei à conclusão que ele tinha criado uma imagem de mim que não correspondia à realidade. Tentei ainda afastar-lhe aquelas ilusões da sua mente quando me diz “Desperdiçaste as tuas oportunidades”. Naquele instante fiquei confusa. Como poderia eu ter desperdiçado as minhas oportunidades se nunca dei realmente conta que elas existiam? De facto, elas eram evidentes. Mas estava cega.
Mais uma vez, tentei aproximar-me dele enquanto a nossa amizade se tornava algo mais natural. Pensei então que outra oportunidade viria. E veio. Tive a oportunidade de ir ao cinema com ele. Mas não era a oportunidade que eu desejava.
Os minutos antes da sua chegada eram deveras irritantes. Sentia ansiedade de estar com ele mas sentia-me também nervosa e com medo que algo corresse mal. Como iria eu reagir? Ficaria tímida, esquiva e muito calada? Ou reagiria de maneira natural, animada e sem preconceitos?
Quando finalmente estive com ele, todos os meus medos dissiparam. Sem conseguir explicar bem porquê, sentia um enorme à vontade com a sua presença. Na verdade, nós tínhamos mais em comum do que alguma vez imaginara. Também nunca me passara pela cabeça deixar que ele ganhasse terreno na minha conquista. Não sou uma rapariga fácil, admito. Não é toda a gente que chega perto de mim e me toca sem eu me desviar e que me agarra sem eu reclamar. Mas ele conseguiu. Conseguiu ter brincadeiras que eu não deixaria que mais ninguém tivesse comigo.
De facto, passei 7 maravilhosas horas com ele nesse dia. E não me fartei um único minuto. Não sentia vontade de ir para casa. Sentia-me viva e alegre como à muito não me sentia.
Aquele dia não me saia da cabeça. Aquele sorriso não me saia da mente. Perguntava-me se ele voltaria. Mas ao mesmo tempo fiquei com medo de me estar a apaixonar novamente.
Mais tarde perguntei se não queria cá voltar para irmos à praia ver o fogo-de-artifício que ia haver naquela noite. Passado um tempo, ele lá aceitou.
Mais uma vez antes da sua chegada, parecia uma barata tonta. O meu coração começava a palpitar depressa enquanto me arranjava. Desta vez, a minha ansiedade era maior e o meu nervosismo fazia-me rir. Afinal, eu estava feliz por saber que ele viria.
Já na praia, sentámo-nos numa espreguiçadeira e enquanto aguardávamos pelo espectáculo, falávamos e brincávamos um com o outro. Quando as luzes começaram a subir pelos céus, eu sentei-me na areia encostada à espreguiçadeira. Enquanto aquelas luzes iluminavam a praia escura e davam um brilho extra aos meus olhos, perguntava-me sobre inúmeras coisas. Uma delas, era o porquê de estar a sentir-me tão bem com a sua presença, o como se sentia ele naquele momento e o para quê que desperdicei tão preciosa oportunidade.
Durante um dos intervalos do fogo-de-artifício, ele pediu-me para fazer uma coisa no meu cabelo. Eu ainda desnorteada nos meus pensamentos e com o principal na mente “O que é que eu sinto?”, recusei. Ele insistiu e eu já mais calma, aceitei. Ele aproxima a mão da minha face e desvia-me o cabelo da cara. Sentir o calor da sua mão sobre a minha pele fria e os seus dedos no meu cabelo, teve mais efeito do que esperaria. O meu coração começou a bater mais depressa e sentia as ditas “borboletas” no estômago. Naquele momento eu percebi que ele era mais do que eu pensava. Que eram sem duvida quem eu queria.
Estava sem dúvida apaixonada e feliz ao mesmo tempo. Feliz e apaixonada como à muito não me sentia. Mais uma vez, era uma questão de tempo até toda a minha felicidade ser arrancada.
Numa ida de rotina ao Facebook, descubro aquilo que mais medo tinha. Descubro que ele tem namorada. Demorou apenas breves segundos até desatar a chorar como à muito não chorava. Tremia por todo o lado enquanto as minhas mãos pousavam na minha testa e os dedos me puxavam os cabelos. Dirigi-me à cozinha e bebi um copo de água, mas nem isso me acalmava. Aquela raiva que eu sentia era tanta que, num momento irracional, jogo o copo ao chão com toda a minha força, vendo-o a estilhaçar-se pelo chão fora. A minha mãe fora-me buscar à cozinha e eu a tremer de nervos e chorar aos soluços. Já no quarto, perguntava-me o que tinha acontecido. Eu não queria responder, queria apenas ficar sozinha e pedi-lhe para sair. Mas ela fez a pergunta chave: “Descobriste que ele tinha namorada?”. Uma revolta enorme leva-me às lágrimas novamente aos olhos e a gritar a plenos pulmões: “Cala-te! Vai-te embora!”. Sentia a guerra como terminada e a derrota declarada. Só precisava de respostas e era isso que eu não tinha.
O meu desespero levara-me a falar com a namorada dele. E a receber as respostas que não queria que fossem as verdadeiras, mas que na realidade eram. Ela dissera-me que o amava que não o queria perder. Enfrentei-a dizendo que isso era o que todas diziam no inicio. De facto, não estava a ver aquela miúda a fazê-lo feliz. Mas era apenas a minha raiva a falar.
Depois falei com ele. Mais uma vez acalmara-me. O que era raiva, converteu-se em pura amargura. Sentia-me a mais. Sentia que já não pertencia a lugar algum. Mas tive de parar e pensar bem no que queria. “Eu amo-o. Eu não o posso ter. Mas continuo a amá-lo à mesma. A única coisa que quero é a sua felicidade. Mesmo que a minha não seja evidente. Não iria suportar tê-lo se não o fizesse feliz. Por isso, será melhor assim. E eu só tenho de seguir a minha vida.” Mas também não iria aguentar vê-lo com alguém que não o faça feliz. Vendo-me disposta a abdicar de tudo para criarmos a nossa felicidade, no nosso mundo. Sabendo aquilo que passei ao namorar com alguém que não me fazia feliz. Apenas não queria que ele vivesse algo semelhante ao que vivi. Não o desejo a ninguém. Muito menos a ele.
Com isto tudo, aprendi que cada oportunidade é indispensável à nossa felicidade. Que por vezes é melhor arriscar, deixando medos de parte. Que por não aceitarmos o nosso presente, esquecendo o passado, podemos perder um grande futuro.

Aprende-se com os erros. Parte 2


Todo aquele tempo sem o ver e sem lhe tocar, despertara em mim um dos sentimentos mais difíceis de suportar: a saudade.
Morta a distância entre nós, tudo parecia perfeito. Via quase diariamente aquele sorriso que tanta falta me fez durante aquele tempo todo que teve fora. Abraçá-lo era agora um sonho tornado realidade.
Tempos depois, decidi ter coragem e falar-lhe de tudo o que passara. Pedi para falar-mos a sós, e sentados numa mesa de madeira, comecei a falar-lhe de tudo o que me sufocava cá dentro. Perguntei-lhe o porquê de me ter deixado falar, expliquei-lhe o quão mal fiquei com a sua ida, confessei o erro que cometera com o meu ex e pedi-lhe para nunca mais me deixar. A tudo ele respondeu-me e sempre com o seu sorriso querido na cara. Pousou a mão sobre a minha e disse: “Nunca pensei que pudesses ficar tão mal. Mas já passou. Eu já não me vou embora”.
Permanecemos juntos nessa noite e, por vezes, andávamos da mão dada e dedos entrelaçados. Entrámos num bar e ele sentou-se num banco alto enquanto eu permanecia à sua frente encostada a ele. Os seus braços percorreram a minha cintura e as suas mãos pousaram sobre a minha barriga. Meti as mãos sobre as suas enquanto deslizava suavemente o polegar sobre as costas da sua mão. Ficamos ali um pouco enquanto observávamos uma partida de snooker. Mais tarde, virei-me de lado. Permaneci encostada a ele mas com o braço sobre os seus ombros. Beijei-lhe a face com delicadeza. Ele esperou que eu afastasse os lábios da sua face para substituir a sua cara pelos seus lábios. Enquanto ficávamos naquele beijo, o mundo parou completamente. Sentia-me nas nuvens. Saímos dali, e mais tarde, fomos para a praia.
Noite de lua cheia e mar calmo. O reflexo da lua espelhava no mar cristalino. Era a melhor noite da minha vida. Sem dúvida alguma.
Quando chegou a altura de ir para casa, deu-me um beijo no canto da boca, sorriu-me e foi embora. Dias mais tarde, pergunto-lhe o que tinha sido tudo aquilo. Pergunto-lhe se aquilo tinha significado algo para ele. Ele responde-me que pensava que tinha sido diferente, mas que tinha chegado à conclusão que não. O arrependimento na sua cara é óbvio. Senti a minha cara a ficar demasiado fria e uma forte tontura fez com que me encostasse a um muro. A sua postura imóvel e o seu ar aterrorizado ajudavam-me a guardar as lágrimas que não queria que escorressem. Ele jurou-me que não era a sua intenção magoar-me e que eu merecia melhor. Abraçou-me enquanto me dizia: “Arrependo-me do que aconteceu porque agora vejo-te assim”. Pedi que fosse embora e ele olhava-me com um ar preocupado perguntando-me: “Ficas bem?”. Acenei com a cabeça, deu-me um beijo na cara e virou costas.
Chorei bastante, é verdade. Mas não me arrependia do que tinha acontecido. Porque apesar de estar a sofrer naquela altura, tinha tido a melhor noite da minha vida. Uma explosão de sentimentos. Um momento inesquecível. Fez-me a rapariga mais feliz do mundo, e mesmo por ter sido só naquela noite, ainda o agradeço por isso.
O tempo foi passando e ele começou a desprezar-me. Hoje, sinto-me usada. E o que aprendi com isto? Nem tudo é aquilo que parece. Mesmo que nos façam felizes por breves momentos, há pessoas que não têm a capacidade de o fazer a tempo inteiro. Viram costas. Ganham ocupações. Seguem as suas vidas. Esquecem o tempo a passar. Desprezam.
Só é merecedor de um coração aquele que o saiba amar.