
Beleza. Moda. Amigos. Valor. Confiança. Orgulho... Tudo um caminho para um beco sem saída.
Sei que inúmeras raparigas no mundo sofrem de anorexia. Sei também que muitas delas não admitem e não vêem o mal que fazem a si próprias. Vêem a elegância como ela não existiu e a gordura onde já não existe. Sei também que há raparigas que invejam o meu corpo, tanto pela minha altura como pela minha condição física. O que elas não sabem é o que vai por dentro.
Escrevo a mensagem que quero passar a todas as raparigas que vivem obcecadas pela elegância e pela beleza. Vou aqui contar a minha experiência de vida de uma maneira simples e fácil de perceber.
Eu era uma rapariga bem constituída. Apesar de não ser obesa nem aproximar-me de tal extremo, era uma rapariga gorda. Vivi a minha infância sem preocupações. Tudo na infância era um mar de rosas e o futuro algo muito fácil. Comia bem para a minha idade e não tinha problemas nenhuns em comer.
O meu pai um dia proibiu a minha mãe de comprar doces para casa para evitar que eu engordasse mais. Eu era gozada pelo meu irmão e pelo meu pai que me chamavam de ''miss pigy'', ''baleia'', ''gorda'', etc. Entrei para a a escola básica (do 5º ao 9º ano) e sentia-me frustrada. Sentia-me posta de parte, sentia-me mal comigo mesma e via que todas as raparigas bonitas eram magras. Com medo de ser gozada também na escola e na esperança de encontrar confiança em mim mesma, deixei de comer. Guardava o dinheiro do lanche e almoço para depois comprar jogos para a PlayStation. Comecei a emagrecer e a crescer muito depressa. Nessa altura, até já magra, via-me gorda. Via no espelho uma rapariga ridícula e feia. Alguém que não queria ser. Continuei a emagrecer e a ter problemas em fazer educação física. Sentia tonturas e cansava-me muito depressa. Sono também me dava muitas vezes mas eu nunca liguei.
Nas férias de verão de transição do oitavo para o nono ano, comecei a dormir até tarde. Comecei a não almoçar nem lanchar. Apenas jantava. Isto durante alguns tempos até ficar-me com apenas um prato de sopa por dia. Ai comecei a reparar nas minhas mãos. Os ossos e as veias salientes metia-me nojo. Os ossos do peito e costelas vincavam a pele clara. Quando reparei em tudo isto, já era um pouco tarde de mais. Tudo o que eu comia fazia força para sair. Ficava mal disposta depois de comer qualquer coisa.
Começou a escola e a minha directora de turma veio falar comigo assustada com a minha aparência. Ela tinha sido minha professora no oitavo ano e tinha ficado assustada com as diferenças que haviam no meu corpo. Ela tentou ajudar-me oferecendo-me senhas da cantina gratuitamente durante cerca de duas semanas. Tudo para ver se eu comia.
Sempre que ia a um médico, receitavam-me vitaminas. O meu dentista, alertava-me dos riscos que sofria ao estar naquele estado e também ele receitava-me vitaminas.
Com a rotina da escola e amigas a ajudarem-me, conseguia recuperar um pouco todos os dias. Foi difícil sair daquele caminho. Foi difícil voltar a comer mas teve de ser.
Agora aviso a todas as raparigas: a minha história não acabou aqui. Eu por vezes tenho recaídas e deixo de ter apetite e vontade de comer. Emagreço de mais e fico perto de voltar aquilo que fui.
Estou a recuperar de outra recaída e sinto-me fraca. E a coisa que mais me custa é ouvir os comentários que fazem e a maneira como gozam. Agora eu estou assim porque o corpo pede. Eu não chamo isto elegância e peço a todas as raparigas para não terem inveja do meu corpo. Além de corpo justo aos ossos, também tenho muitas quebras de tensão, queda de cabelo, unhas frágeis e maior probabilidade de apanhar doenças.
Não façam disto um caminho para a obrigação do vosso próprio corpo. Não precisam de ser magras para serem belas. A maior beleza está no interior e não no exterior.
Hoje em dia, a coisa que mais odeio é ouvir raparigas lindas e elegantes a dizerem: ''Estou gorda. Preciso de uma dieta''.
Eu não como por prazer apesar de querer. Eu como para sobreviver.
Já superaste o problema uma vez. Consegues outra vez. Tens os teus amigos a apoiarem-te e isso basta. Quanto ao resto, anorexia é uma estupidez. Privam-se de uma das coisas que mais nos faz sentir vivos.
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