domingo, 16 de janeiro de 2011

Anorexia


Beleza. Moda. Amigos. Valor. Confiança. Orgulho... Tudo um caminho para um beco sem saída.
Sei que inúmeras raparigas no mundo sofrem de anorexia. Sei também que muitas delas não admitem e não vêem o mal que fazem a si próprias. Vêem a elegância como ela não existiu e a gordura onde já não existe. Sei também que há raparigas que invejam o meu corpo, tanto pela minha altura como pela minha condição física. O que elas não sabem é o que vai por dentro.
Escrevo a mensagem que quero passar a todas as raparigas que vivem obcecadas pela elegância e pela beleza. Vou aqui contar a minha experiência de vida de uma maneira simples e fácil de perceber.
Eu era uma rapariga bem constituída. Apesar de não ser obesa nem aproximar-me de tal extremo, era uma rapariga gorda. Vivi a minha infância sem preocupações. Tudo na infância era um mar de rosas e o futuro algo muito fácil. Comia bem para a minha idade e não tinha problemas nenhuns em comer.
O meu pai um dia proibiu a minha mãe de comprar doces para casa para evitar que eu engordasse mais. Eu era gozada pelo meu irmão e pelo meu pai que me chamavam de ''miss pigy'', ''baleia'', ''gorda'', etc. Entrei para a a escola básica (do 5º ao 9º ano) e sentia-me frustrada. Sentia-me posta de parte, sentia-me mal comigo mesma e via que todas as raparigas bonitas eram magras. Com medo de ser gozada também na escola e na esperança de encontrar confiança em mim mesma, deixei de comer. Guardava o dinheiro do lanche e almoço para depois comprar jogos para a PlayStation. Comecei a emagrecer e a crescer muito depressa. Nessa altura, até já magra, via-me gorda. Via no espelho uma rapariga ridícula e feia. Alguém que não queria ser. Continuei a emagrecer e a ter problemas em fazer educação física. Sentia tonturas e cansava-me muito depressa. Sono também me dava muitas vezes mas eu nunca liguei.
Nas férias de verão de transição do oitavo para o nono ano, comecei a dormir até tarde. Comecei a não almoçar nem lanchar. Apenas jantava. Isto durante alguns tempos até ficar-me com apenas um prato de sopa por dia. Ai comecei a reparar nas minhas mãos. Os ossos e as veias salientes metia-me nojo. Os ossos do peito e costelas vincavam a pele clara. Quando reparei em tudo isto, já era um pouco tarde de mais. Tudo o que eu comia fazia força para sair. Ficava mal disposta depois de comer qualquer coisa.
Começou a escola e a minha directora de turma veio falar comigo assustada com a minha aparência. Ela tinha sido minha professora no oitavo ano e tinha ficado assustada com as diferenças que haviam no meu corpo. Ela tentou ajudar-me oferecendo-me senhas da cantina gratuitamente durante cerca de duas semanas. Tudo para ver se eu comia.
Sempre que ia a um médico, receitavam-me vitaminas. O meu dentista, alertava-me dos riscos que sofria ao estar naquele estado e também ele receitava-me vitaminas.
Com a rotina da escola e amigas a ajudarem-me, conseguia recuperar um pouco todos os dias. Foi difícil sair daquele caminho. Foi difícil voltar a comer mas teve de ser.
Agora aviso a todas as raparigas: a minha história não acabou aqui. Eu por vezes tenho recaídas e deixo de ter apetite e vontade de comer. Emagreço de mais e fico perto de voltar aquilo que fui.
Estou a recuperar de outra recaída e sinto-me fraca. E a coisa que mais me custa é ouvir os comentários que fazem e a maneira como gozam. Agora eu estou assim porque o corpo pede. Eu não chamo isto elegância e peço a todas as raparigas para não terem inveja do meu corpo. Além de corpo justo aos ossos, também tenho muitas quebras de tensão, queda de cabelo, unhas frágeis e maior probabilidade de apanhar doenças.

Não façam disto um caminho para a obrigação do vosso próprio corpo. Não precisam de ser magras para serem belas. A maior beleza está no interior e não no exterior.

Hoje em dia, a coisa que mais odeio é ouvir raparigas lindas e elegantes a dizerem: ''Estou gorda. Preciso de uma dieta''.

Eu não como por prazer apesar de querer. Eu como para sobreviver.

1 comentário:

  1. Já superaste o problema uma vez. Consegues outra vez. Tens os teus amigos a apoiarem-te e isso basta. Quanto ao resto, anorexia é uma estupidez. Privam-se de uma das coisas que mais nos faz sentir vivos.

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