quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Afogamento no Desprezo


Fecho os olhos enquanto me sento na rocha mais alta desta praia. Permaneço sentada a ouvir o ruidoso embater das ondas na rocha, desfazendo-se em vapores de água salgada que molham a parte superior. Abro os olhos e vejo a bravura do mar. Aquela pequena porção do tão grandioso oceano.
Levanto-me sentindo as primeiras gotas a embater-me na cara. Gotas que se tornam cada vez maiores. Começo a sentir o frio da água a congelar no meu corpo com o vento.
Olho para baixo, para toda aquela bravura e inquietação. Pergunto-me se será correcto voltar as costas ao passado e seguir em frente. Antes de poder pensar abertamente sobre o assunto, um estrondoso relâmpago assusta-me. Perdi o equilíbrio e sem mais nada poder fazer, deixo-me cair por aquele rochedo em direcção à bravura do mar.
A dor do embater do meu corpo na água fez-me soltar o pouco ar que tinha encontrado nos pulmões. Começo a afogar-me enquanto a violência da maré me empurra contra as rochas. Pensei se seria o meu fim, se aquilo era a altura de me despedir de toda a vida. Nos poucos minutos que permaneci naquela inquietação, o meu corpo congelava-se pouco a pouco. Pensei na minha felicidade e em quem realmente poderei ser. “Serei eu uma pessoa tão má que não conseguirá ter sucesso com a felicidade? Para ser feliz com os outros, tenho de ser feliz comigo mesma. Não deixarei de amar e de ser amada só por achar errado amar. Se não tenho capacidades para conquistar o sonho, contentar-me-ei somente com a felicidade que isso me poderá dar.”

Esperei novamente que uma forte onda me empurrasse contra as rochas para me conseguir libertar de um possível afogamento. O meu coração batia com força como se estivesse pronto para viver novamente. Ergui a cabeça mas aquela forte chuva impedia-me de ver bem. Trepei o máximo que consegui. Arranhei-me, aleijei-me, cortei-me. Bati com força com a cabeça na rocha o que me fez sangrar. Deixei a dor e a cobardia de lado e continuei a trepar. Finalmente cheguei ao topo do rochedo de onde tinha caído. Mas agora cá do topo é que consigo ver, que foi tarde de mais.

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