domingo, 29 de agosto de 2010

Como as pessoas banalizam o amor


Sentei-me um dia para pensar nas pequenas coisas da vida, do mundo que me rodeia. No pequeno mundo que gira à volta do que nos aquece, do que nos conforta, do que nos mata, que nos acompanha nos dias limpos. Fixei um ponto da minha parede para mergulhar num mar de ideias e pensamentos e para me afogar na minha própria mente. Comecei a pensar em algo tão impossível de explicar. No amor e nos seus derivados. Falo de amor de casal. Quando duas pessoas sentem o mesmo uma pela outra. Quando há uma chama que se acende no coração de cada um. Uma chama intensa e difícil de apagar. Uma chama que por vezes queima o ar e nos mata por dentro. Um simples toque pode reacender um incêndio sem controlo. Fala a voz do pecado e caiem no esquecimento os apaixonados que tanto calor sentem. O acelerar do coração, o voar das borboletas, os calafrios, a felicidade que se prende no estômago. Tudo isso faz parar o mundo. Não o mundo dos outros mas sim o mundo de quem sente. Caem os tecidos que nos protegem e voam os cabelos descaídos. Envolvem-se dois corpos pelo amor e a atracção. Elevam-se as respirações enquanto o coração se solta numa batida forte que nos faz ouvir a vida. Do nada cria-se algo. Intensificam-se os toques até os corpos voarem. O amor alimenta-se assim.
Quando alguém mesmo apaixonado está disposto a fazer tudo pela sua cara-metade e a sua metade corresponde, trancam-se os medos, suspendem-se os segredos e ligam-se duas vidas pelo consentimento mútuo. Dessa ligação criam-se laços fortes até à morte. Dois corações serão um. O seu bater forte cria uma vida nova e passa a bater por um novo pequeno coração. O amor faz milagres é verdade. Cria vidas, muda pessoas, mas mata aqueles que não recebem a correspondência do mesmo amor.
Mas há pessoas que não dão valor àquilo que é verdadeiro. O mundo agora é feito de prazeres e dinheiro. Ninguém liga o que não se compra e aluga-se o que não se pode ter. O sexo é combinado por duas identidade por vezes desconhecidas uma da outra para prazer de ambos. O casamento é uma fonte de dinheiro, e por vezes, nem dura o tempo de um piscar de olhos. Fomos os criadores da matéria e agora a matéria cria-nos a nós. Mentes brilhantes quiseram facilitar mas o mundo contemporâneo que renovar. As boas coisas da vida foram esquecidas. O amor já não acontece quando menos se espera e já nem se acende uma única chama. Apenas permanece a brisa suave de cada perfume que, noite após noite, deixam no meio dos lençóis. Assinam-se papeis dizendo “por amor” mas por amor não são. Não se comprova o amor por uma assinatura. O amor sente-se nos carinhos e afectos dados cuidadosamente e que tanto bem fazem.
A sociedade é feita disto. Já nem a virgindade é vista como pureza. A virgindade é vista como uma praga. As piores traições são aquelas que são feitas ao próprio corpo. Faz-se o impensável pelos outros e o que os outros fazem são exemplo de vida. A sociedade é assim. “Interrogada sejas por sangue não teres perdido”, mas desprezada sejas por amor nunca teres sentido.
Amor corporal não passa de interesse sexual. A busca do amor não parte da busca do prazer. O amor tem de partir do nada e criar tudo. Diz-se feliz por não casar, diz-se feliz por não namorar, diz-se sozinha por ninguém a querer quando ela só quer é... sozinha sofrer.

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