domingo, 29 de agosto de 2010

DarkMoon


''Vem de dentro tudo o que sou mas como posso ser alguém se não tenho nada por dentro? Vazia e trancada no meu próprio mundo cheio de assombrações e medos inquebráveis, tento viver lutando contra todas as minhas vontades. Dos anjos caiem promessas e dos demónios assombrações. As promessas ficam suspensas na escuridão da noite mais fria e as asas que os enviaram fogem para um mundo mais sólido. Risonho fica o demónio que se apodera de mim dia após dia roubando-me parte da minha vontade de viver. Suporto toda a dor e lágrimas com a falta de sentimentos. A mente fria do corpo magro e gelado não tem cor, não tem vida. Um véu negro tapa-me toda a visão e não sei viver assim. Quero ver o que não pode ser visto. Apodera-se de mim a sede dos teus lábios e a fome do teu toque. Nada diz que sim. Sento-me, vencida pelas vertigens dos quilómetros e pela fadiga do tempo. Não posso fazer nada. Não me posso levantar. Um grande peso puxa-me em direcção ao chão. Lembro-me que estou num mundo sombrio, frio, escuro. Um mundo diferente do de todos os outros seres humanos. Onde a gravidade é incompatível com a minha força. Do meu vestido negro apenas sinto o molhado das lágrimas de outrem. Das lágrimas que um dia alguém derramou por mim. E piora o vento que me bate de frente. Seca todas as lágrimas e proíbe-me de respirar. Vento frio e forte. Congela-me o coração e faz de todas as lágrimas que queria um dia libertar, pequenos cristais de gelo. Parecem pequenos diamantes presos aos meus olhos negros. Engulo as palavras que a dor me trás e prendo-as a todas as lágrimas que não consigo libertar. Não posso demonstrar a parte fraca, fazendo-me sentir ainda pior. Ninguém desconfia. Os anjos que me olham nada podem fazer. Vendo-me ali sentada, pensam que estou assim porque quero. Não sentem o frio gelado, as mãos trémulas, o aperto no coração, a falta de alma, a fome e sede. A raiva apodera-se de mim e faz do meu vestido panos. Agora sei que devia ter ficado quieta e calma à espera que um dia alguém se lembrasse. Agora estou nua e mais gelada que nunca. As unhas cravam-se no meu corpo abrindo as feridas que nunca chegaram a fechar. E assim fui perdendo as forças, a esperança, a alma e o amor. Perdi-me em mim própria. O coração esquece-se de bater e ali morri, gelada, nua e ensanguentada.'' Nunca mais ninguém ouviu falar dela. Naquela noite fria, a lua negra desapareceu.

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