segunda-feira, 18 de abril de 2011

DarkMoon 3


De todas as alternativas possíveis que ponderei em escassas horas, nenhuma fez-me ver a melhor maneira de me ajoelhar perante um espírito revoltado por tantos erros que eu cometera.
Frente àquela postura imóvel e tão perfeita, estava eu de faca na mão. Uma faca afiada e brilhante que fazia reflectir a sua linda face como se de um espelho tratasse. Aproximei lentamente a faca ao meu pescoço até sentir o seu toque gelado a congelar-me a garganta. Começo a pressionar a faca com mais intensidade, deslizando-a pelo meu fino e delicado pescoço. Da grande ferida agora aberta, saem os meus mais profundos segredos, todos aqueles que não tencionava contar ou aqueles que esperava esquecer. Sai também a minha voz gritando por um perdão, por um desejo, por ele. Friamente, ele tentou calar a voz do meu coração. A única voz que nunca calarei. A única coisa que restou do que agora são minúsculos pedaços de diamante que guarda tão bem num lugar que só ele sabe.
Meteu a mão no meu pescoço, e com um olhar distante, fez pressão com os seus dedos sobre o golpe. A sua força e a sua frieza não cala o meu sentimento que insiste em sair por entre os seus dedos. Vencido afasta-se, fitando o brilho dos meus olhos que insistem a fixar os seus. Delicadamente, passa os seus dedos sobre a minha mão ocupada. Surpreendida pelo toque tão delicado e tão impróprio do momento, deixo cair a faca que ele tão bem agarrou antes que esta tocasse no chão. Com as suas mãos agarrando o punho, penetrou a faca no seu peito, abrindo-o num pequeno buraco à medida do seu coração.
“Olha. Olha-o bem” – disse-me sem me olhar. Ouvir aquela voz fez-me soltar o espírito, arrepiando-me de emoção. Obedeci e olhei para o seu coração. Não, não é perfeito. De tudo o que vira nada se assemelhava. Era um coração duro que pouco batia. A cada batida, faziam-se sobressair as cicatrizes do passado. Quanto mais o olhava, mais desconfortável ficava. Estiquei a mão na esperança de o tocar, de o reanimar, de o cuidar. Antes da minha mão tocar no seu coração, os meus dedos embatem numa espécie de caixa de vidro que não me tinha apercebido. Era uma caixa à medida do coração que guardava todos os seus segredos.
“É inquebrável. Não a tentes partir.” – e os seus olhos fixaram-se nos meus com um ar enraivecido. Como se eu tivesse invadido a sua privacidade. Quando tirei a mão do seu peito, peço-lhe desculpa já de lágrimas nos olhos. Ele sorriu-me de forma trocista e o seu coração deixa de bater. As minhas lágrimas deixam de escorrer sobre a minha face agora imóvel e sem expressão. Baixo a cabeça sentindo-me vencida pela minha pouca força, enquanto ele me vira costas e segue o seu caminho de sorriso colocado.

3 comentários: