domingo, 12 de setembro de 2010

Liberdade Para Ser Quem Sou

É nos dias de maré negra que me ponho a escrever. Quando a lua, minha amiga, já vai longe. Quando o céu é um extenso manto de escuridão profunda. É na pequena caixinha que me encontro. Pequena mas alta. A minha caixinha. Onde passo dias a fio. Onde guardo as piores recordações. Onde as desilusões eram insignificantes lágrimas que hoje já não correm. É nesta minha caixinha, meu velho e pequeno quarto, que se mantém a alma presa e os pensamentos soltos. É este o meu espaço. O espaço que não admite que ninguém entre sem ser de dia. A porta mantém-se fechada quando a noite cai, não vá ela abrir caminho aos temas que não quero ouvir.
É sentada e deitada que penso naquilo que nunca serei. Naquilo que nunca poderei imaginar. Naquilo que não devia sonhar. Gostava de um dia acordar na mais pacífica floresta. Onde ninguém me encontraria. Um lugar bem longe de todos aqueles pensamentos obscuros. Sentir-me livre, poder ser eu mesma e despir-me de preconceitos. Sair da fama e estudar o desconhecido em mim.
A floresta de árvores altas e de erva macia. Um lugar perto dum rio calmo e cristalino onde o seu reflexo, mostrasse o meu ser e o meu interior. Uma paisagem segura e preservada de tudo e todos. Um lugar onde finalmente poderia soltar a minha voz. Estudar todas as notas que poderia soltar, algumas como um suspiro, outras com a força de viver. Ler a minha mente e produzir as emoções na fala, no canto, na dança, na arte. Testar-me sem ser gozada, mostrar que a liberdade é algo puro.
Por mais que eu pense que um dia poderei libertar-me, sei que não será possível. A minha voz prendeu-se em mim e já não se quer soltar. Voltar a tê-la de novo era um processo que poderia levar meses ou até anos.
Resta-me a guitarra. Guitarra é parte de mim. Canta por mim. Canta toda aquela melodia que já não consigo reproduzir. Canta minha amiga. Passar a ponta dos dedos com alguma delicadeza pelo braço da guitarra, seguindo cuidadosamente a corda pretendida para não a perder, e com a mão direita, exercer a força que elas precisam para viver. Sentir aquela pequena vibração a passar-me pela ponta dos meus finos dedos e a desvanecerem-se no som que produzem.

É mágico saber cantar. É mágico saber tocar. E eu tenho a magia da música e é na minha alma que a vou guardar.

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